segunda-feira, 20 de maio de 2013

Onde ninguém vê

É de barro quem se aproxima, passos colados ao chão sem linha que separe um do outro.
Sem luz começou seu dia e assim vai terminar. O invisível arqueia seus ombros, pesa o andar.
Sentado em frente à porta da casa desgostosa, o mais pequeno espera. 
Os grandes foram com o pai, no mesmo cedo de sempre, sem reclamar. Viveram enxada, terra e semente enquanto o sol observava e nem uma sombra convidava pra refrescar. Se a lida de uns terminava, o guri no alpendre esperava - com olhos que cuidam do horizonte embaciado -  o momento de começar a sua.
A imagem do que pode ser um homem se aproxima e toma seu posto.
O moleque logo se achega, balde e trapo nas mãos.
Encharca o pano, torce um bocado, envolve um dos pés até que a cor troque de lugar. Repete. Encharca o pano, torce um bocado, envolve o outro pé até que a cor troque de lugar. Repete. Encharca o pano, torce um bocado, envolve mais uma vez o primeiro pé, até que a cor volte ao seu lugar.
Bença, pai.



Ouro
foto: Sylvia Beatrix







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