terça-feira, 24 de agosto de 2010

Só dói quando ri

Sempre sabemos como surgem, mesmo quando queremos esquecer. Visivel ou não, contam historias, trazem memorias. Uma delas, aconteceu de maneira muito bonitinha. Do alto do beliche, o menino resgatou as historias que ouviu, os quadrinhos que leu e o filme que assistiu. Resolveu voar. Preparou-se todo, não seria um voo como o do Super Homem. Seria um voo de Homem Aranha! Esticou os braços, apertou com o dedo indicador o próprio pulso para liberar a teia, mirou para o além e foi... para o chão! De cara, a seco, não sem antes bater o lábio superior naquele que, antes prédio, agora era apenas o outro beliche. Mas ele voou... entre a projeção do pulo e o corte na boca, ele esteve no ar. Rápido, rapidíssimo, milésimos de segundo... ele esteve no ar! A boca, até hoje mostra o feito. Dois pontos, nenhum dente perdido e a certeza de ter voado. Orgulho. Dessa cicatriz aparente, ainda hoje, quando ela já não tem mais o mesmo tamanho de antes, sente prazer em contar o que aconteceu. Ele cresceu, ela encolheu. E as invisíveis, o que fazer com elas? Do mesmo jeito que a cicatriz Homem Aranha, as invisíveis tem sua própria historia e nome. Difícil orgulhar-se delas ou contar com o tempo para que diminuam. Dormem, fingem-se mortas mas tem vida própria. Mascaradas nas tarefas do dia a dia, basta um sopro, uma letra, uma música, uma foto, um link ou qualquer outro despertador de memória para que, como uma fenix, ressurjam das cinzas. Neste momento, o menino homem, passa a mão sobre os lábios. Sente a rugosidade leve da marca de infancia e suspira. Quem dera, todas fossem como esta...

domingo, 22 de agosto de 2010

Homenagem a Dona Lygia, a Alfacinha

Foi um dia de dor. Muita. Depois de noventa e oito anos, um marido, tres filhos, seis netos e nove bisnetos; de ter enterrado o marido e o filho do meio, ela resolveu ir também. O corpo já não respondia à sua vivacidade. Os olhos, mantinham os azuis claríssimos, belo contraste para os cabelos brancos que sempre chamavam a atenção. Quantas foram as pessoas que ao verem o algodão que decorava aquela cabeça, cerimonia totalmente esquecida e guardada, acariciavam a cabeleira e exclamavam "que coisa mais linda!" Assim era... linda. Mas como tudo nessa vida, um dia se vai... ela foi. Carnaval, aniversário do filho enterrado, talvez quisesse relembrar os momentos passados com aquele seu menino folião - ao som de "Bandeira Branca", foi matar as suas saudades. Esta introdução é apenas para apresentar ao leitor, bem superficialmente, Lygia, minha avó. O que realmente quero deixar aqui, é a sua oração predileta, que no dia de sua partida, coube a mim ler, para todos os presentes. "Deus nosso pai, que sois todo poder e bondade, Dai a força àqueles que passam pela provação. Dai luz àquele que procura a verdade. Ponde no coração do homem a compaixão e a caridade. Deus... Dai ao viajador a estrela guia, Ao aflito, a consolação Ao doente, o repouso. Pai... Dai ao culpado, o arrependimento Ao espirito, a verdade À criança, o guia Ao órfão, o pai. Senhor... Que a Vossa bondade se estenda sobre tudo que criaste Piedade Senhor, para aqueles que não Vos conhecem, Esperança para aqueles que sofrem Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores, Derramarem por toda a parte a Paz, a Esperança, e a Fé. Deus... Um raio, uma faisca do Vosso amor pode abrasar a Terra. Deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, Todas as dores acalmarão, Um só coração, um só pensamento subirá até vós com um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos. Ó beleza! Ó perfeição! E queremos de alguma sorte merecer a Vossa misericórdia. Deus... Dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós. Dai-nos caridade pura. Dai-nos fé e a razão. Dai-nos a simplicidade que fará das nossas almas o espelho onde se refletirá a Vossa imagem. Caritas."

domingo, 1 de agosto de 2010

O presente

Nem real era. Pedra, papel, metal precioso ou tecido - nenhum destes materiais se aplicavam a ele. Nem líquido, nem gasoso. Muito menos sólido. Reais, dólares ou euros foram desnecessários. Fato impensável em uma época como a de hoje onde "vale quanto custa" parece ser a regra. Custo zero. O material utilizado foi a criatividade, aliada à emoção e a um rico acervo. Chegou aos poucos, em etapas, atraves de um email. Texto explicativo, ligeiramente jocoso, mas já antecipava possiveis consequencias. Uma lágrima aqui e outra ali poderiam aparecer. Na mensagem, um link - o caminho virtual dos tempos de hoje - que nos levam a passeios impressionantes. Por este caminho, imagens de ontem e de hoje foram sendo descortinadas. Uma a uma. Clique após clique. E lá estava ela, a Vida. Nascimentos, comemorações, férias, situações cotidianas e até a morte estavam lá representados. Alguns se foram, levados por Deus, outros se foram por um link diferente. Duzentos e oitenta cliques. Vinte anos de historia. Uma familia. Uma vida. Várias lágrimas.
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