segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Espelho


O vento corta a pele, o azul do céu convida o olhar.
Muitos falam, pouco se compreende.
Luzes que cegam e entretém, portas se abrem... vai e vem. Ninguém.
Por todos os lados imagens dobradas, reflexos do que foi e do que será.
Sem espaço para o novo, o que é velho se reinventa.
Aquele que caminha na outra calçada está ao meu lado?
Vejo mas não reconheço. Fotografo, marco, registro.
Por onde olho, tudo se repete em sequências idênticas, lineares e infinitas.
Sentado, pausa para o cigarro. Observa.
A cidade tudo reflete.
O que ouve cala.
E o que sabe, guarda.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Simplicidade

Café da manhã é minha refeição predileta.
Nonna Nelly dizia que devemos nos alimentar pela manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo. Ela também possuía um prato, que ficava pendurado na parede da cozinha, na casa da Rua Baiburuas com a seguinte frase: "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe."
A rua não existe mais com este nome, hoje homenageia o parente de algum vereador de São Paulo. O prato se quebrou, mas o hábito de tomar café da manhã como uma rainha, permaneceu.
Pães, frutas, cereal, leite, manteiga, margarina, geléia de laranja... organizo tudo na mesa da cozinha. Gosto de ver a mesa completa parecendo buffet de hotel. Isso acontece por aproximadamente quatro dias, na sequencia da exagerada compra do supermercado. Pequenos prazeres.
Sem o café, do tipo que não precisa fazer força prá sair do bule, preto mesmo - o dia não começa.
Tenho em casa uma linda cafeteira espressa - só usada em ocasiões especiais - e uma outra do tipo italiana, sextavada, de alumínio, que você coloca a água na parte inferior, depois o filtro - coloca o café sem forçar a barra - e por último a peça que precisa ser rosqueada e que será o depósito do ouro em líquido das minhas manhãs.
As duas peças se quebraram. Descobri isso logo cedo, preparando minha mesa real.
O mal humor começou a se instaurar, a ponto de pensar na possibilidade de tomar chá de maçã no lugar do café. Idéia de girico! Chá de maçã? E a cafeína, como fica?
Antes que eu me encontrasse com algum ser vivente em casa e pusesse a vida dele (ou dela) em risco, me lembrei de um brinde que meu marido ganhou no final do ano passado. E que eu desdenhei.
Lá estava ela... pequenina, com suporte em alumínio, um coador com cara de infância e uma xícara vermelha, de ágata. Voltei no tempo.
Ferver a água, acrescentar o pó ao coador, posicionar a xícara e esperar o meu despertador matinal escorrer despertou em mim tantas memórias quanto novos pensamentos.
Envolta em tantas "nespressos", cafeteiras possantes, chiques, deslumbrantes e deslumbradas, há muito tempo eu não apreciava o lento processo de coar o café.
Ferver... dosar o pó... aguardar.

Simples assim.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Se ventar...

Mais um dia...
Ouvir o despertador, pernas e olhos pesados, levantar.
Preparar o café, tomar banho, desjejum.
Caminhar até o ponto, sacudir em pé no ônibus, trajeto.
Bater o cartão, ligar o computador, bom dia, posso ajudar?
Marmita fria, arroz sem mistura, refeição.
Outro telefonema, café sem gosto, boa tarde, posso ajudar?
Sair as cinco, chegar às oito, trânsito.
Abrir a porta, cômodo para arrumar, solidão.
Deitar tarde, sem janta nem tevê, que vida.
Melhor dormir, sem suspirar.
Está que é só o pó...



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