segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vai prá onde?


O peito não comporta a caixa toráxica e o ar rarefeito se contrapõe ao esforço das narinas de coloca-lo prá dentro dos pulmões.
Tontura. Formigamento nas mãos. Suor seco.
Não é a morte que se aproxima. É uma decisão. Quase a mesma coisa.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

bunda

"Boca foi feita para ser beijada minha filha."


Causei espanto em muita amiga, lá pelos meus quinze anos, quando dizia esta frase.
Nessa época, ao redor de 1978, cabelos brancos arroxeados eram comuns. Pelo menos na minha casa. Ensinar a fazer tricô e crochê, também. Fiz muito casaquinho e sapatinho para instituições de caridade, observando as laçadas e cruzadas de agulhas que as mãos de minha vó orquestravam.

Dona Lygia ou Alfacinha, foi quem me ensinou a usar linhas e agulhas e a não ter medo de beijar.

Professora de piano, tinha os dedos longos e a pela mais macia da paróquia. Vaidosa, estava sempre arrumada, levemente maquiada e sempre - sempre! - perfumada. Detestava budum.


Desde essa época, ela tinha cara, jeito e maneiras de avó. Diferente de hoje em dia, quando você não consegue identificar quem é a neta, a filha ou a avó. Quem a visse na rua, acompanhada de seus filhos e netos, sabia exatamente quem ela era.

Sua coroa era sua cabeleira arroxeada.

Linda, imponente e altiva, a ponto de, não raro, em nossos almoços dominicais, alguém no restaurante se aproximar por trás dela - ao mesmo tempo que com as mãos em concha tocava sua cabeça - dizendo: de quem são estes cabelos mais lindos!?


Situação parecida a esta, vivenciei anos depois, quando nasceu minha primeira filha. Confesso, era um saco a cada ida ao shopping center, as pessoas parando e dizendo "que coisinha mais linda..." e eu fazendo cara de poucos amigos. Hoje, penso que só minha vó para ter paciência semelhante a de Jó para sorrir, virar-se e dar atenção a estas pessoas. Alfacinha, era uma santa!


Meu primeiro diário foi presente dela, quando completei quinze anos. Capa plástica verde, com centro de fundo branco onde havia uma rosa vermelha. Na primeira página, em sua belíssima caligrafia e provavelmente escrita com BIC azul, estavam os versos:

Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Depois de um casamento desfeito e várias mudanças de casa, esta frase é tudo o que restou deste diário...
Ela adorava a língua portuguesa. Adorava mesmo! Vivia nos corrigindo ao menor deslize. Tinha orgulho da mãe professora e do irmão, José Castellões, professor de latim. Pronunciava algumas palavras, procurando a expressão da sonoridade perfeita, da construção gramatical exata. Ficava inconformada com o que ouvia na rua. Estão acabando com o português minha neta... uma tristeza... uma tristeza, dizia quando retornava das compras.


Caminhava muito, ia para todos os lados do bairro de Moema até o dia que se deparou com a crueldade da cidade - caiu no golpe da "mulher passando mal na rua" quando teve seu apartamento assaltado e alguns meses mais tarde, as calçadas da cidade lhe deram uma rasteira e passou a usar bengala. Nasceu o receio de ir e vir e começou a ficar mais em casa.


Foi aqui que começou sua despedida. Despedida longa esta, que terminou no Carnaval de 2009, aos noventa e oito anos no dia do aniversário de seu já falecido filho, Fernando. Mas, não antes de passar a seus bisnetos, algumas jóias de sua sabedoria, quando lhes dizia:

- Bizinhos... nossa língua é linda.. sonora... rica. As palavras bem ditas, enriquecem quem as ouve... Algumas palavras, mais do que outras, e para mim, meus queridos, não há palavra mais gostosa de se falar do que bunda. Vejam como ela enche a boca, faz saltar as bochechas...buuunnnda.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Malvadeza


De uma coisa, tenho certeza: meu lugar no inferno está garantido. Afirmo isso, pois a maneira como sou grossa e mal educada com os telefonemas que recebo de telemarketing, só podem me mandar direto prá casa do coisa ruim. Meus filhos falam isso - se depender do exemplo que dou neste assunto, é capaz da vara da infância tocar a campainha. Ontem, resolvi ficar repetindo o que o atendente falava: alo? alo? dona Sylvia, por favor? dona Sylvia, por favor? Hoje, resolvi comemorar a ligação e gritava ao telefone: ai que bom!!!! filha, a Claro está ligando de novo! Nas duas situações, eles desligavam. Não tenho escapatória, aquele calorzão me aguarda...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Prestando atenção aos detalhes


Inicio de semana e ja me sinto cansada. Quem passou, eu ou o tempo? Resolvi tirar a limpo esta questão e entendi o cansaço. Fiz coisa muita! Que me lembre, assim de chofre, hoje eu: acordei, abri os olhos, pisquei, me espreguicei, levantei da cama, andei, usei o banheiro, falei, despertei minha filha, me vesti, escovei os dentes e os cabelos, calcei os sapatos, preparei o café, alimentei o Matuto, beijei o marido, passei batom, peguei as chaves, abri a porta de casa e a do carro, guardei bolsa e laptop no porta-malas, liguei o motor do carro, fechei a porta, liguei o rádio, ouvi música, mudei de estação, esperei minha filha cortar a maçã e entrar no carro, senti o perfume dela, sorri, pressionei o pedal da embreagem, engatei a marcha ré...  e tudo isso antes das 6,20h!

sábado, 13 de agosto de 2011

Mea culpa

Ecologia, bah!
Sinceramente, acredito que  somente quando eu virar adubo poderei ser considerada 100% ecológica. Antes disto, qualquer ser vivente será um contribuinte para o aumento da produção de lixo - orgânico ou não. Isso é fato. Mesmo que eu faça tudo direitinho - desde só comer frutas que caiam do pé, ao invés de terem sido colhidas, até lavar potinho de iogurte - ainda assim, estarei contribuindo para a degradação do meio ambiente. Como a maioria dos animais, eu peido.  Claro que nada comparável ao rebanho caprino da Nova Zelândia e que por muito tempo foi responsabilizado pelo buraco na camada de ozônio - longe disso, por favor, que minha família insistiu na minha educação. Digo insistiu, pois se tivesse sido utilizado algum outro verbo, provavelmente eu não estaria escrevendo sobre isso e, muito menos, fazendo. Aliás, esta é uma pergunta que vira e mexe permeia os meus pensamentos:  gente chique peida ou não?
Glorinha Kalil, Danusa, a Rainha da Inglaterra, Gisele, Michel Temer, Catherine Deneuve, Carla Bruni, Michelle Obama, William e Kate, FHC... como funciona para eles? Estão sempre rodeados de pessoas, almoços, jantares, coquetéis, comidas exóticas, quitutes de rua - isso tudo deve se desorganizar de quando em vez e... bom, vamos deixar os detalhes prá lá que este não era o ponto.
Infelizmente, dentro de meus enormes deslizes ecológicos, tem um que eu simplesmente adoro cometer: regar o jardim.  Fica especialmente prazeroso, em um dia como hoje, com um céu maravilhosamente azul enfeitado com pedacinhos de algodão, um calor delicioso e água-pra-que-te-quero.  Não espero ser absolvida do crime, podem me condenar - eu mesma fico sem graça... as vezes. Mas se vocês vissem o sorriso que minhas plantinhas exibem, quando as gotas de água batem em suas folhas...ah!, tenho certeza que diminuiriam a pena!
Tenho praticamente a certeza de que elas acenam e brincam, agradecem e riem como crianças a cada esguichada que recebem. Eu, fico toda prosa. Percebo que estão felizes, que de alguma maneira alguém se colocou contra o meteorologista e sua "previsão de tempo seco e sem chuvas para os próximos dias" e resolveu agraciá-las com um pouco d´água. Gosto, especialmente, de regar as folhas. Quanto mais alta a planta, mais feliz fico pois imagino os pensamentos de abandono que as folhas mais altas tem... e a surpresa, quando recebem as gotas que não caem do céu. Neste movimento, fico por um bom tempo olhando para o céu, vendo os pequenos arco-íris artificiais que se formam e pensando... devaneios que vem... coisas a toa... imagens bucólicas... pum!

É meus amigos, no âmbito da ecologia e da finesse estou lascada, espero ter salvação em outra área.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

5 prá daqui há pouco


5:55
6:10
Um pouco mais... só mais um pouco...
6:35
Merda, melhor levantar, vou me atrasar.
1, 2, 3, 4, 5, 6 a reunião começa as 10h, ainda tenho mais um tempinho... em que número eu parei? Merda, vou começar de novo, conto até 10 e levanto.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10... aiiii... mas tá quentinho aqui, detesto levantar, de-tes-to
7:20!!!
PUTA QUE O PARIU,
Fudeu! Fudeu! Fudeeeeeu!!! A porra da Castello vai estar entupida e a Marginal um troço... besta, estúpida, quem mandou ficar enrolando...
Nem vou lavar o cabelo, desencana, faz um rabo e pronto, senão tô lascada...
8:20 no máximo tenho que estar no carro... ai que fome... de novo, sem café. Merda de despertador... porra, o despertador não tem nada a ver com isso... mania de ficar contando até 10 antes de levantar... Números, números, números... odeio, que merda, tô atrasada de novo!
Cacete, como é que o meu marido consegue!?
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