sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz VOCÊ, seja lá qual for o ano

Nasci em sessenta e três.
Quarenta e oito anos se passaram desde então e algumas coisas aconteceram. Já tenho algumas histórias para contar.
Enterrei pessoas queridas e amadas e fui a pessoa que discursou nestes funerais. Homenagear aqueles que amamos com a voz embargada é tarefa das que menos gosto. Aprendi que é melhor fazer isso aos poucos, mas todos os dias. Nem sempre consigo praticar...
Vi nascerem crianças amadas e contribuí com a vinda de duas delas. Ganhei outras duas de presente e por escolha, trabalho/aprendo com outras tantas que foram rejeitadas.
Fui sequestrada duas vezes, uma delas com minha filha no carro e com uma arma apontada para sua cabeça de apenas cinco anos. Esta mesma filha, por descuido do pediatra, caiu da mesa de exames e entrou em choque. A culpa ficou comigo.
Entrei em depressão, fui parar no hospital e a única coisa que tiveram certeza é que não sabiam o que eu tinha. Cogitaram tentativa de suicídio. Eu? Me poupe... Sou covarde demais para isso.
Ao nascer o primeiro grande amor incondicional da minha vida, Lucas, quase morri com a quase morte dele.
Emagreci, engordei e tornei a emagrecer. Engordei de novo. Crescer, só um metro e cinquenta e seis centímetros.
Namorei, transei com amor e sem, beijei, abracei, casei, descasei e casei de novo. Fui feliz e triste. Chorei e gargalhei. Fiquei impassível também. Desejei muita gente que nem me olhava. Fui incapaz de perceber os que me queriam.
Rejeitei muita gente que depois aprendi a respeitar. Meu padrasto é um exemplo vivo disto. Bem paciente ele...
Já ganhei muito dinheiro e gastei tudo. Fiz faculdade, curso de tarô, de escrita criativa, eneagrama, programação neurolinguistica, coaching, desenho, pintura em cerâmica e também fiz nada muitas vezes e por muito tempo.
Privilégio de poucos, eu sei, pisei em todos os continentes deste mundo, morei na Alemanha e voltei para São Paulo. Viajei só e não gostei e também já viajei acompanhada e não gostei. Amores foram desfeitos neste trajeto e algumas amizades também.
Falei muito palavrão, xinguei no transito, sofri acidentes.
Passei por revista em cadeia para visitar alguém que eu muito amava, descrente que estivesse envolvido em assassinato. Estava envolvido, foi preso, julgado e condenado. Chorei.
Tive compaixão por assassina de Yorkshire e ódio mortal de motoqueiros que levaram meu espelho lateral. Fui incoerente, confusa e me senti pequena.
Disse coisas que magoaram alguma pessoas. Todas muito generosas, me perdoaram. Eu também perdoei.
Fui à igreja, mesquita, sinagoga, centro de umbanda, candomblé e espírita. Pedi, desavergonhadamente, para qualquer santo, orixá ou rabino que concretizasse os meus desejos. Arregacei as mangas também.
Tenho medo.
Assim como o sol nestes quarenta e oito anos, o medo é presença constante. Amigos íntimos. Crescemos juntos e eu aprendo muito com ele.

Estou esquecendo de muitas coisas e outras estou omitindo mesmo.
Vou passar a meia noite deste trinta e um de dezembro de dois mil e onze numa super festa e minha mãe passará no hospital se recuperando de uma cirurgia cardíaca. A vida é assim mesmo, extremos inclusive na virada do ano.

Tem fatos que eu gostaria que tivessem sido diferentes outros que não tivessem existido e de muitos tenho saudades e jamais serão revividos. Apenas lembrados.

Gosto do fato de poder estar celebrando mais uma virada, sem saber o que me aguarda, quem vou conhecer, quais fatos novos exigirão de mim o melhor que tenho para oferecer e diante dos quais irei me acovardar. Sei que estarei aqui para o que der e vier. Assim como você.

Feliz você!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Um conto de bacalhau


Depois dos quarenta, quem nunca usou óculos começa a sentir a necessidade de usá-los. Tudo o que está mais perto fica embaçado, como por exemplo o rosto dos seus filhos quando vai beijá-los ou as letras dos jornais e revistas que ficam bem menores. Sacanagem.
Portanto, quando este momento chegar, sempre - eu digo SEMPRE, vá ao supermercado com seus óculos.

Amigo secreto sorteado via internet - uma diversão! A sua sobrinha internética faz perguntas, responde e ri sozinha no grupo. Uma farra!

A lista de quem leva o que também já está pronta - a madrinha se encarrega das frutas, a Nonna leva o tender com purê de maçã, os amigos vão trazer o frango com as maravilhosas batatas, sua irmã e o filho chef de cozinha, as sobremesas. E você, o bacalhau. Ninguém pediu, você se ofereceu.

Chegou o Natal. Lista de supermercado em punho, as crianças te acompanham para a saga de fazer compras no dia 23 - uma cuida dos itens para o café da manhã (os primos sempre dormem em casa), outra vai cuidar dos petiscos e aperitivos. E você, como não poderia deixar de ser, vai cuidar dos itens para o bacalhau. E sem óculos.

Fase 1. Por mais de 24 horas o bacalhau fica de molho prá dessalgar. Várias trocas de água e a derradeira no leite. Isto eu já sabia. A novidade surgiu quando começou a luta para separar a pele. O que era isso? Puxa de um lado, passa faca afiadíssima de outro - e nada. Cavoca ali, levanta acolá e a pele resistindo. Você liga prá sua mãe, torcendo para que haja um método mais simples. Tem sim, comprar pronto ou congelado, sem pele e sem espinhas.  Piadinha mais fora de hora...

Terminada a fase 2, pele arrancada, na fase 3 descubro que, na vida de um chefe de cozinha a parte mais importante é o auxiliar de cozinha. Ele picada, descasca, lava, separa, coloca nas medidas certas - e provavelmente, também teria tirado a pele. Mas você não tem um auxiliar de cozinha.  Cebola, alho, tomates e ovos estão todos à sua espera. A azeitona portuguesa também. Como você foi sem óculos para o supermercado ela está... com CAROÇO! Qual a razão de escreverem com letras tão miúdas nas embalagens?
Cebola refogando no azeite  e o bacalhau acompanhando o cozimento, é hora de se dedicar às azeitonas... uma a uma... Incrível como podem ser tão diferentes uma das outras.  Algumas só de olhar, o caroço sai. Outras, você dá tres pulinhos e pede prá São Longuinho  te ajudar a encontrar uma maneira mais fácil de tirar esse caroço.  Suspira e pensa... ainda bem que vão mastigar mesmo, assim não percebem a diferença entre azeitona sem caroço e azeitona esmigalhada. Muitas ficaram esmigalhadas. E não tenho muita certeza se alguma azeitona foi para o lixo e o caroço para a panela...

Agora é só esperar. O tempo e o fogo baixo farão todo o resto. Satisfeita, sorrio - logo todos chegarão e o momento de partilhar um dos momentos mais amorosos do ano se aproxima. 

Torcer para o bacalhau não estar muito salgado...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Desfecho único


Bateu forte e pausadamente antes de entrar. Por hábito não por cortesia. Antes do terceiro som seco na madeira, a porta se entreabriu. O cheirume escuro, fétido e abafado, entra em suas narinas e encontra em seus pulmões um lar. Sorri.

Cinzeiros entupidos e espalhados no canto da sala, sobre a pia da cozinha, na mesa de jantar e pacotes de cigarro ainda fechados... que déjà vu. Como são repetitivos... Bitucas pelo chão, carpete queimado, cama desfeita. Eu poderia ter vindo aqui antes...

Caminha como se flutuasse pela quitinete, afastando de si as latas amassadas, pratos com restos de comida e roupas que encontra. Está em casa. Em mais uma.

O laptop aberto sobre a mesa de centro, ilumina o suficiente. Um sinal de vida pisca... pisca... pisca... na tela de cristal líquido... pisca... pisca... pisca... continuo... ritmado... pausado... pisca... pisca... pisca... Um dia você também irá parar....

Irradiando incoerência sobre a mesa, pousa uma pequena colher de prata. Em seu cabo torto está gravado Cristiano Anderson, 4  de agosto 1975.  Hoje em dia não fazem mais isso.... Presente para recém nascido é fralda descartável, colher de plástico e comida de potinho. E ainda assim sobrevivem.

Organizados ao lado da colher estavam a vela, os fósforos queimados, a seringa e o pó branco. Ordem, alguma sempre precisa existir.

Recostado na poltrona puída, estava o motivo da visita.
A silhueta azulada e sem pulso,  queixo encontrando o peito e braços pendendo ao lado do corpo tinha em seu colo um livro. "O limpador de chaminés - Hans Christian Andersen". Exageradamente óbvio...

Cutucou a massa inerte e ordenou. Venha.
A sombra do que antes era um ser desprendende-se do corpo e obedece ao comando. Confusa, atordoada, sem o peso da matéria mas com as amarras da vida pregressa cumpriu a ordem imposta.

Idiotas insistentes. Vamos para o próximo... 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Manual

Compro celular novo. Leio o manual. Televisão? Idem. Relogio de parede? Também. Eu gosto de ler manuais. Pode até ser o da sua maquina de lavar roupa.
Produto de um lado, manual do outro, mexe aqui, vira acolá e... voilá! Como diria minha amiga R.D., fico toda pimpona depois que a traquitana está funcionando.
Nos remotos tempos de teste vocacional, do tipo "feito nas coxas", recebi um resultado sugerindo que eu trabalhasse com Organização e Métodos. Nem existe mais isso, trocaram de nome e, até eu enquanto escrevo isto, dou risada com a imagem de que eu pudesse organizar e dar método a alguma coisa... Pois sim! Para isso existem os manuais - que os outros escrevem e com os quais, me delicio.
Além da quantidade infinita de manuais, existem os livros que ensinam qualquer um a fazer qualquer coisa. Estes são bestsellers - podem conferir nas prateleiras da casa de minha mãe. Precisa trocar pia? Tem um livro prá isso. Consertar torneira. Tem, sim senhor. Chuveiro, porta, para organizar armários, prateleiras, gavetas, tirar manchas, etc, etc, etc Todos os assuntos nas prateleiras das Saraivas e Culturas da vida.
Há muito tempo, exatamente dezenove anos, tenho procurado um manual único - ninguém tem, todos procuram e alguns poucos são experts autodidatas na matéria.
Se voce que está lendo, souber de um exemplar, por favor, me empresta.
É o manual "Como ser uma boa mãe e abandonar o sentimento de culpa".
Eu juuuuuuuuuuro que leio rapidinho e devolvo. Prometo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Enquanto isso...

... na fila do caixa:
- Aí eu falei prá ele, tipo assim, meu, não vai falar nada!?
- E ele?
- Ah, com uma voz besta, falou.. desculpa...
- E você?
- Ah, eu falei "o que?"
- E ele?
- Ah, falou "já disse, to pedindo desculpa aí ô"...
- E você?
- Pô, quem pede desculpa desse jeito, meu? Cara ridículo... Aí eu falei...

...

... no elevador:
- Garanto, estamos alinhados. Dei uma dura no cara, enquadrei mermo.
- Tava na hora, prá ser sincero contigo cara, já tinha passado da hora...
- Eu sei, broder, eu sei... mas é complicado
- Cara, pode ser complicado, mas com a grana que tá rolando tem que descomplicar...
- É, eu sei... eu sei... tem que enquadrar... tem que enquadrar...

...

... na livraria:
- Nossa que bacana! O encontro deve ter sido demais!!
- ...
- Isso é super estimulante...
- ...
- AAHHHHHH NÃO A-CRE-DI-TOOOOOOO!!! Amore, tenho que desligar... eu pre-ci-so beijar e abraçar quem eu encontrei aqui!! Nooooooossa que saudade!!! Re, vou desligar, vou desligar... CARAAAAAAACA, eu tava pensando em você!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Advérbio do cotidiano

Sempre respiro.
Todo dia me deito.
Raramente me exercito.
Nunca como jiló.
A qualquer momento, posso mudar meu caminho.
Já morei em outro país.
De longe, todos são normais.
Gosto de ficar à toa.
Às vezes não sou feliz.
Amanhã, é outro dia.

sábado, 26 de novembro de 2011

Sábado de Noemi

Jantares como aquele não eram novidade. As mesmas pessoas, o mesmo restaurante, os mesmos pratos. A diferença estava no sorriso. E só no dela...
Claro que já tinhamos visto seu sorriso em outras situações - em seu próprio casamento, nas festas de final de ano ou com a piada besta contada no churrasco. Aquele era novo.
Suas mãos insistiam em fazer malabarismos e piruetas, sorrindo junto com os lábios. Até os cabelos, quando balançavam, sorriam...

Isto sim é felicidade, pensei. Ultrapassa a fronteira do corpo, se espalha ao redor e marca um momento. Único.

Com este sentir, acordei no dia seguinte e sorri.
A sexta, foi de Celina...
Hoje, será um sábado de Noemi...


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Encontros

Chile, Argentina, Venezuela e Brasil encontraram-se para comer camarão na moranga - oferecido e feito pela Venezuela para fazer uma festa de despedida para Argentina, que está de mudança para o futuro reino de Kate e William.
Na verdade, somente tres puderam degustar a iguaria, pois Chile marcava sua presença de maneira virtual, via Skype, pois já retornou para a terra natal de seu marido Suiça, levando, obviamente, seus filhos Suiça Jr e Brasilzinho.
Este encontro, não era o primeiro e muito provavelmente não será o último deles. Mas foi único.
Depois de quatro anos de convivencia intensa, cada um dos presentes estava começando a trilhar um caminho diverso daquele que, como já dito, compartilharam nos últimos quatro anos.
Chile foi falar francês...
Argentina vai aprimorar seu inglês...
Venezuela busca carteira assinada...
Brasil virou avó e vai escrever...
E a saudade vai apertar. Ô se vai...


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Movimento Gota Dagua - eu apoio - Belo Monte, não

Segue o link de um video que, se não explica tudo, pelo menos nos leva a questionar e a querer pesquisar e tomar uma decisão mais fundamentada sobre esta obra.

http://vimeo.com/32115701

OU

http://www.youtube.com/watch?v=TWWwfL66MPs

sábado, 12 de novembro de 2011

Ah, se eu pudesse...

Se eu pudesse, deixaria o mundo sem arestas, para que quando você aprendesse a andar, não se machucasse.

Se eu pudesse, neste mesmo período, acolchoaria todos os teus caminhos para que suas quedas fossem amortecidas.

Se eu pudesse, purificaria todo o ar que você respira e todo o alimento que ingere e, de todos os males do corpo, te afastaria.

Se eu pudesse, te apresentaria o seu amor eterno.

Se eu pudesse, impediria que a dor te alcançasse.

Se eu pudesse, sofrer não seria uma palavra e muito menos um verbo.

Se eu pudesse... nada disso faria, pois te impediria de viver.

E vivendo, tudo podemos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Morte

Ao redor dos dez anos, quando faleceu Humberto Sarcinella, meu avô paterno, lembro direitinho da seguinte cena.
Horário do intervalo no Externato Vieira de Moraes, no bairro de Campo Belo. Minhas amigas - hoje seriam chamadas de BFFs (ainda prefiro "amigas"), Mônica (morena e carioca) e Marta (loira escuro e paulistana) se aproximaram para ouvir meu segredo.
Em um círculo, pequeno e apertado, olhando para os lados - garantindo que ninguém estranho estaria próximo para nos ouvir - revelei o que se passava em minha casa.
- Meu avô morreu.
Silêncio e uma certa apreensão. Pausa dramática, olhar para os lados, continuei:
- Mas não contem prá  ninguém... NINGUEM, ouviram? Pois é segredo. Minha família tá mentindo... estão fazendo um inventário...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O baile

Em um instante, pequenas gotas de purpurina reluzente bailavam ao meu redor.
Lindas... brancas, vermelhas, amarelas... alternavam-se descompassadamente no descompasso dos meus pés.
Estáticos, buscavam um ritmo que não mais lhes pertencia.
Um tempo sem medida trouxe os beijos não trocados, os projetos relevados, os sorrisos trocados...
Trouxe todas as possibilidades que um rodopiar pode proporcionar.
Girar, sonhar, lembrar, temer...
Sem avisar, também parou.
As luzes não mais rodavam.
O descompasso é do coração.
No corpo, tremor.
Foi o momento do encontro entre tudo o que se teve e tudo o que tememos não ter...
Brilhos estáticos piscam...
Carros passam...
O policial se aproxima.
- Sim, seu guarda... estou bem...um pouco nervosa...não estou ferida... preciso buscar minha filha...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Só queria dizer que te amo

Ontem aprendi que, quando estou num avião, quer eu goste ou não, entre V1 e V2 estou no limbo.

Hoje, aprendi que bate-boca rola em qualquer lugar, na frente de qualquer um, usa-se qualquer palavra.
E tudo isto parece real num mundo virtual.

Em mil novecentos e oitenta e um, aprendi a dirigir e hoje não sei ensinar isto à minha filha.

Um curso de programação neurolinguística me ensinou a resgatar sonhos.

Acordada, sonhei em ser escritora.

Estudando, entendi que expressar o que sinto, não é suficiente.

Tudo isso... e o que eu queria dizer era tão simples...



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O que você quer ser quando envelhecer?

Lá pelos idos da década de setenta, quando alguém perguntava a uma criança "o que você quer ser quando crescer?", a resposta poderia ser "salsicha!"
Claro que haviam respostas do tipo engenheiro, advogado, médico, bailarina ou professor. Bombeiro, provavelmente. Meu filho, quando tinha uns oito anos, respondeu motoboy. Quase tive um enfarto.
Em muitos casos, depois da decisão tomada, é um caminho de mão única com desvios naturais ou não, terreno acidentado ou plano - todas essas coisas que caminhadas que tenham a sua duração estimada em setenta e três anos e dois meses, de acordo com o IBGE, encontram. Ou não.
Muitas perguntas vão aparecer também, mas dificilmente, num bate papo de bar, no almoço dominical ou no casamento do primo distante (onde o que você quer é encontrar alguém que seja o seu número), alguém vai te perguntar: o que você quer ser quando envelhecer?
Hoje em dia, tem algumas pessoas perguntando isso para seus clientes - o moderno "coaching" tem essa como uma de suas perguntas poderosas. Mas você já perguntou isso para si próprio?
Assisti a um video, que fez com que eu me perguntasse o que quero ser quando envelhecer. Ponte.
Simples assim.
Até pensei no meu epitáfio:
"Aqui jaz uma ponte. Interligou pessoas, proporcionou caminhos, encurtou distancias. Descanse em paz."

E você. O que vai ser quando envelhecer?

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Abaixo o link e o convite para que assista o video.

Sonho Brasileiro - Manifesto

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

E na outra mesa ao lado...

- Lá la ri la ra rááááá!!!!!
- Gabi, páre.
- Vem aqui, Mona... lá la la ri la la lááááá!!!
- Gabi, pare, Gabi. Já falei. Senta. Senta, Gabi, aqui, agora. To mandando...
- HAAAAAAAAAAAAA!!!!! Lá la ri la ra rááááá!!!!! Roda, Mona, rodaaaa...
- Gabi, pára já com isso. Senta. Mona, voce também. As duas, sentadas. Olha, vou cancelar o pedido e não trago mais voces aqui.
- Lá la ri la ra rááááá!!!!! Hahahahahahaha!!!! Olhas as pedrinhas...
- É assim? Vou cancelar tudo... Garçom, garçom, pode cancelar tudo, elas não se comportam... ah! Vai se sentar?
- Lá la ri la ra rááááá!!!!! Sentei mãe... SEEEEEENNNNNNTEEIIIIIIIII Lá la ri la ra rááááá!!!!!
- Gabi, mais baixo, filha. Mais baixo... voce não sabe se comportar. Olha, não trago mais nenhuma de voces duas aqui. Gabi, voce se comporta pior que a Patricia, não pode... shhhh....shhh... já pedi.
Lá la ri la ra rááááá...
- Melhor, filha... olha, chegou o pedido... agora come.

...


- Lá la ri la ra rááááá!!!!!
- Gabi, páre.
- Vem aqui, Mona... lá la la ri la la lááááá!!!
- Gabi, pare, Gabi. Já falei. Senta. Senta, Gabi, aqui, agora. To mandando...
- HAAAAAAAAAAAAA!!!!! Lá la ri la ra rááááá!!!!! Roda, Mona, rodaaaa...
- Ai meu Deus... garçom, por favor, a conta... Gabi pára, pára... já pedi....
- Lá la ri la ra rááááá!!!!!

Não arremessei um livro, pois não estava lendo... e o laptop não me pertence.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Esforço

Na cozinha, começo a esquentar as alcachofras que serão servidas em nosso jantar, estamos de dieta e hoje somos só nós duas. Mãe e filha.
Enquanto não ficam prontas, Camilla prepara o molho que acompanhará cada folhinha de alcachofra e eu começo a picar as folhas de couve prá fazer suco. Papo vai, papo vem - época de vestibular, as dúvidas, a carreira, o que fazer, prá onde ir, qual é a melhor faculdade, a amiga que desistiu no meio do curso, etc e tal.
Uma conversa prá cima, construtiva, cheia de trocas e carregada de amor e confiança no futuro.

...

Ligo a TV, está na Globo e assistimos parte do Jornal Nacional. Se não fosse o jantar, a conversa e o sorriso dela, eu juro que desistia. Acreditar, depois de ter assistido o JN, exige muito de mim.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Retorno


Pasta de um lado, bolsa de outro. Priorizo a bolsa.

Lápis, caneta, batom, recibos de cartão de débito e de crédito, contas a pagar, clips, óculos com e sem caixinha, cartões de visita - os meus e os teus - celular da empresa, celular pessoal, necessaire, carteira, papel de bala, bala e uma bela saculejada em cima da lixeira prá garantir que está vazia. E limpa.
Rasga, rasga, rasga - responde um email - rasga, rasga, rasga. Quanta papelada inútil!
Guarda, guarda, guarda - custa colocar as coisas no lugar depois que usou? - organiza, organiza, organiza. Pronto.

Acho que bagunço tudo prá poder organizar depois. Coisa de louca. Ou bagunceira?
Voltar das férias é um saco. Tudo bem, gosto do que faço - aliás, gosto muito - mas estava bom "lá".
Na terça feira, praticar o ritual das segundas, ajuda no processo de transição. Me engana que eu gosto...

O que ajuda mesmo neste retorno, é o sorriso do Daniel, o porteiro da garagem, acompanhado de um "que bom que voce voltou!". Na sequencia, vem Nelson com seu sorriso acanhado e o "bom dia, Dona Sylvia, pensei que não voltava mais", Doret com sua doce pronuncia "gerrrrrrrmanica", um abraço e o beijo de boas vindas e ainda o café "que presta" da Kelly, acompanhado de pão francês fresco "pois eu sabia que você voltava hoje".

Tenho que admitir. Para algumas coisas, voltar é bom.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Lágrimas férteis

Avenca em tempo de seca, desfolha.
Perde seu verde colorido, cede espaço para um amarelado e tem como destino um voo leve.
Desprende-se pouco a pouco daquelas hastezinhas pequetitas, que até então sustentavam seus verdes e vai de encontro ao solo.

Seca, em países tropicais, tem tempo certo para durar.
Nada matemático, nunca programado, mas sempre certeiro.
Tempo é assim. Incontrolável.

E neste momento, a avenca chora.
Toma emprestada as gotas que o céu manda para todos e assume que são somente dela. E para ela.
Chora copiosamente... sem perceber que neste momento, na confusão de seus sentires, está alimentando a si própria.

Folhas verdes estão por vir...

domingo, 25 de setembro de 2011

Como termina?


Fico transtornada quando vejo metidos endinheirados destratando funcionários, exercendo um certo "poder", na frente de todo mundo. Pode até ser que eu tenha o conflito rico x pobre, classes - nomeie como lhe agradar. Fico mal.
Ontem festa, hoje sossego culinário e, para isso acontecer e também descansar, o melhor é sair e almoçar com a família em algum restaurante. Aqui pertinho mesmo. Vamos ao shopping da comunidade.
Tendo nascido com a habilidade de ouvir, mesmo que você fale baixo, mas com intenção de ser escutado, eu vou te ouvir. Também sou curiosa, bisbilhoteira - ou seja, ouço mesmo a conversa da mesa ao lado. Nem vou tentar me desculpar.

Local: restaurante português, classe AAA.

Mesa 1 - família de quatro pessoas - ninguém com pinta de anoréxico, muito pelo contrário.
(pai, conversando com o garçom): E estes pratos, podemos dividir? Ah... os pratos são individuais? Sei... qual o seu nome, por favor? (estendendo a mão para o maitre) João? Muito prazer, sou Roberto. João, conversa lá com o pessoal da cozinha, vê o que eles podem fazer, queridão. Queremos dividir os pratos, ok? Sabe como é João, chega a segunda feira e ficamos com a consciência pesada. 

...

Mesa 2 - família de quatro pessoas, o pai calado o tempo todo, o irmão mais novo (12?) enfiado no game que tem em mãos, a mãe ereta e séria (nem um sorriso se quer) e a adolescente (15?) falando ininterruptamente. O ponto alto, foi na saída.
(esposa, braços cruzados sobre a mesa, corpo levemente inclinado e olhando fixo para o marido): Você viu a matéria da Veja hoje? Viu? Carlos, eu odeio este país. ODEIO! Quero ir embora o mais cedo possível, entendeu?

...

Vallet parking - uma Cayenne (baita carrão...) parada e afoito, de um lado para o outro, o homem (com forte sotaque estrangeiro) agitava os braços e fociverava:
- Está jogando a culpa no cliente? É isso? No cliente? Chame o gerente! Chame o gerente! Estou mandando! Qual o seu nome? Como? Vou anotar. Tenho certeza que isto não estava em meu carro! Vocês fizeram isso! Vão pagar... ah, vão pagar! Parvos! São todos uns parvos! 
(Ao mesmo tempo que isso - e um pouco mais - era dito, olhava ao redor para todas as pessoas que passavam. Parecia buscar platéia e apoio. A família dele? Estava em um canto, esperando o desenrolar de - provavelmente - mais um escandalo de papai...)

...

Minha cabeça estava em Campo Limpo. Será que a polícia conseguiu encontrar a mãe da criança de, no máximo, três anos que corria pelas calçadas, atravessava as ruas e  que eu quase atropelei?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Doze meses

Zonsa. É assim? Sonsa? Sonza? Zonza? Tonta, pronto. Fiquei assim, disse prá mim mesma que estou de férias. Minha chefe acreditou. Trabalhei hoje. Férias? Vai prá onde? Lugar nenhum. Preciso ir prá algum lugar para estar de férias? Se não sair não vale? Semana que vem também trabalho. Dia 13. Só podia ser. Pelo menos é quarta, deve dar menos azar do que na sexta. Sexta eu saio. Viagem? Tipo isso, mas de estudo. Quase trabalho. Volto e trabalho de novo. Dia 30. Coisa leve, mas vou usar salto e terninho. Bronzeado, nem pensar. Férias. De quem?

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Família, família


Meu pai era pão duro e adorava robôs. Seus ídolos eram o Tio Patinhas e o Professor
Pardal. Desnecessário explicar.

Guardava as migalhas de pão para fazer farinha de rosca. Não só as dele. Hoje alguns de seus hábitos, considerados bizarros na época, deixam qualquer militante do Greenpeace orgulhoso. Alguns, ainda são bizarros, independente da militância.
Essa mania de guardar tudo e reutilizar fez com que criasse seu próprio esconderijo. A famosa, entre amigos e familiares, "Casinha".

Tijolos aparentes, telhas de cerâmica, porta e janelas de madeira marrom, originalmente uma casinha de boneca para que eu e minha irmã tivéssemos onde brincar. Como se o imenso quintal e o pomar fossem insuficientes para nós duas, os três cachorros, os galos e galinhas que corriam por ali. Em pleno Brooklin, um mini sitio.

Minha irmã se encantava com as goiabeiras, o limoeiro, os pés de cana, a laranjeira e ficava boa parte do seu tempo livre, brincando por ali. Eu, ficava enfiada em livros e televisão - era uma chata mesmo. A "Casinha" ficou abandonada. Por pouco tempo.

Inconformado com o desperdício de tempo e dinheiro investidos, materiais e otras cositas más, meu pai apropriou-se do local.

Quinquilharia era o que não faltava. Bule sem tampa, luminária com fiação estragada, ferro de passar roupa quebrado. Pensou em alguma coisa velha, quebrada, capenga? Tinha.

Suas ferramentas, chave inglesa, serrote, martelo, porcaparafusoprego foram todas para o novo habitat. Para alívio de minha mãe que não aguentava mais tudo aquilo na sala. Organizado é verdade, mas ainda assim, estavam na sala.

As inúmeras caixinhas de fósforos, com os respectivos já usados dentro, os tocos de cigarros e os maços de Continental sem filtro, ocuparam um lugar especial. Sempre achei que ele fumava tanto, um seguido do outro, para aproveitar o fogo de um cigarro já aceso. Imaginação fértil de menina, é verdade, mas meu pai dava margem a pensamentos esdrúxulos como esse. Ô, se dava... parava na rua, de sopetão para pegar moedinhas - qualquer moedinha. Chegou a comprar uma carteira nova com as moedas recolhidas - a velha, deu prá mim. Sem moeda. Nem de um centavo. Nada.

Após o jantar, entrava na "Casinha" e por lá ficava até bater o sono. Tinha tudo o que precisava. Televisão, aparelho de som e radio amador. Se tivesse cama e um mini bar, deixaria de ser "Casinha" e passaria a ser "Lar". Dele.

Do lado de fora, ouvir o barulho do serrote, da furadeira ou das marteladas, deixava mãe e filhas curiosas. Algumas vezes, a atividade praticada gerava um apagão. Estávamos acostumadas, só irritava quando acontecia no dia do ultimo capítulo da novela.

Com ele descobri a palavra traquitana. Ele dizia que era robótica, em estado inicial e puro. Aceitei, pai é pai. Em sua biblioteca, títulos curiosos "Eu, autômato" e escritores arrojados como Isaac Asimov ou Aldous Huxley estavam presentes. Domingo, era dia de acordar com Strauss e seus marcantes tímpanos e tambores, acompanhados das trompas e trombones e aquele tãntãããn!!!!! fabuloso de "Also Sprach Zaratustra". Eu ficava esperando a hora que uma nave espacial entraria pela janela do meu quarto.

Continuo esperando.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vai prá onde?


O peito não comporta a caixa toráxica e o ar rarefeito se contrapõe ao esforço das narinas de coloca-lo prá dentro dos pulmões.
Tontura. Formigamento nas mãos. Suor seco.
Não é a morte que se aproxima. É uma decisão. Quase a mesma coisa.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

bunda

"Boca foi feita para ser beijada minha filha."


Causei espanto em muita amiga, lá pelos meus quinze anos, quando dizia esta frase.
Nessa época, ao redor de 1978, cabelos brancos arroxeados eram comuns. Pelo menos na minha casa. Ensinar a fazer tricô e crochê, também. Fiz muito casaquinho e sapatinho para instituições de caridade, observando as laçadas e cruzadas de agulhas que as mãos de minha vó orquestravam.

Dona Lygia ou Alfacinha, foi quem me ensinou a usar linhas e agulhas e a não ter medo de beijar.

Professora de piano, tinha os dedos longos e a pela mais macia da paróquia. Vaidosa, estava sempre arrumada, levemente maquiada e sempre - sempre! - perfumada. Detestava budum.


Desde essa época, ela tinha cara, jeito e maneiras de avó. Diferente de hoje em dia, quando você não consegue identificar quem é a neta, a filha ou a avó. Quem a visse na rua, acompanhada de seus filhos e netos, sabia exatamente quem ela era.

Sua coroa era sua cabeleira arroxeada.

Linda, imponente e altiva, a ponto de, não raro, em nossos almoços dominicais, alguém no restaurante se aproximar por trás dela - ao mesmo tempo que com as mãos em concha tocava sua cabeça - dizendo: de quem são estes cabelos mais lindos!?


Situação parecida a esta, vivenciei anos depois, quando nasceu minha primeira filha. Confesso, era um saco a cada ida ao shopping center, as pessoas parando e dizendo "que coisinha mais linda..." e eu fazendo cara de poucos amigos. Hoje, penso que só minha vó para ter paciência semelhante a de Jó para sorrir, virar-se e dar atenção a estas pessoas. Alfacinha, era uma santa!


Meu primeiro diário foi presente dela, quando completei quinze anos. Capa plástica verde, com centro de fundo branco onde havia uma rosa vermelha. Na primeira página, em sua belíssima caligrafia e provavelmente escrita com BIC azul, estavam os versos:

Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Depois de um casamento desfeito e várias mudanças de casa, esta frase é tudo o que restou deste diário...
Ela adorava a língua portuguesa. Adorava mesmo! Vivia nos corrigindo ao menor deslize. Tinha orgulho da mãe professora e do irmão, José Castellões, professor de latim. Pronunciava algumas palavras, procurando a expressão da sonoridade perfeita, da construção gramatical exata. Ficava inconformada com o que ouvia na rua. Estão acabando com o português minha neta... uma tristeza... uma tristeza, dizia quando retornava das compras.


Caminhava muito, ia para todos os lados do bairro de Moema até o dia que se deparou com a crueldade da cidade - caiu no golpe da "mulher passando mal na rua" quando teve seu apartamento assaltado e alguns meses mais tarde, as calçadas da cidade lhe deram uma rasteira e passou a usar bengala. Nasceu o receio de ir e vir e começou a ficar mais em casa.


Foi aqui que começou sua despedida. Despedida longa esta, que terminou no Carnaval de 2009, aos noventa e oito anos no dia do aniversário de seu já falecido filho, Fernando. Mas, não antes de passar a seus bisnetos, algumas jóias de sua sabedoria, quando lhes dizia:

- Bizinhos... nossa língua é linda.. sonora... rica. As palavras bem ditas, enriquecem quem as ouve... Algumas palavras, mais do que outras, e para mim, meus queridos, não há palavra mais gostosa de se falar do que bunda. Vejam como ela enche a boca, faz saltar as bochechas...buuunnnda.


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