quarta-feira, 30 de junho de 2010

Exercício de pensar

Entrou na sala, procurou um lugar que lhe parecesse confortável e discreto. Sentou-se. Poltrona azul escuro, daquelas com braços gordos e acolchoados, sem saber ao certo qual era o estilo, mas reconhecia que havia uma parecida na casa de sua avó. Combinava, e muito bem, com o restante da sala - vários tons de azul, diferentes matizes e texturas, bem como formatos e tamanhos. Gostou. Começou a observar os demais participantes, cada um em seu lugar, todos sentados olhando para a mesma direção. ELA. ELA, estava em pé, de frente para todos, com um canetão branco na mãe esquerda e rabiscava algumas palavras, que formavam alguns conceitos na tela branca. A voz, simples e cativante, ia descrevendo características literárias, teorias, histórias e, aqui vem o que importa, apresentando personagens até então desconhecidos. Não para ELA, mas para eles. Encantou. Nomes famosos, lidos, filmados, cantados e declamados. Apresentados de tantas maneiras que a reação não poderia ter sido outra. Despertaram. A partir deste momento - e no conjunto de tantos outros que se apresentaram naqueles longos e deliciosos meses - o inevitável aconteceu. Criaram.

domingo, 27 de junho de 2010

Apenas tres letras

Tanto para formar a palavra, quanto no alfabeto, elas seguem a mesma ordem. D, O, R. Cismam em se juntar, quando voce menos espera. Muitas vezes, voce mesmo procurou ordená-las. Finge que não sabe o que fez, mas as letrinhas estão lá, para mostrar a consequencia de um ato ou de um fato. Nesses casos, além de paciencia, quatro letrinhas em ordem, também podem ser o caminho. A, M, O, R.

sábado, 26 de junho de 2010

Confraternização

Estar junto é um dos maiores prazeres que tenho. Se é com voce, nem consigo medir...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saudade

Tãntãntãn. Seco, rápido e sem espaços. Nunca foi muito religioso, não ia à missa, evitava enterros. Batizado, foi a um só. Em casamentos gostava da festa, de encontrar os amigos, tomar whisky sem gelo e temperado com água bem gelada, por horas a fio, mantendo o mesmo copo. Quando a água esquentava, pedia outra. E claro, mais uma dose. Por causa disto, no início causava estranheza o tãntãntãn noturno, diário, preciso, metódico e infalível produzido logo após murmurar a oração. Infalível sim, pois mesmo depois de uma festa de casamento o som era produzido. Ou ainda, quando chegava tarde da noite, após um jantar de trabalho ou happy hour com os amigos, como um autômato, sentava-se na beirada da cama, murmurava (mais parecia um grunhido), fazia o sinal da cruz, deitava, puxava as cobertas sobre o corpo fechava a mão esquerda e com o osso do dedo médio batia na cabeceira de madeira da cama de casal. Tãntãntãn. Seco, rápido e sem espaços. - Ninguém agüenta esse clima! Olha eu aqui, de novo, me descascando como uma cebola. Casaco, malha, cachecol, moletom, segunda pele... Eu mereço! Por instantes, foi despertada com a ladainha de sempre. Até sorriu. Silvana, sua colega de trabalho, sempre tinha alguma coisa para reclamar. No verão, excesso de calor. No inverno, excesso de frio. Primavera, outono... Carolina voltou os olhos para o computador e fingiu concentração. A proposta precisava ser terminada ainda hoje, na verdade, deveria ter sido terminada ontem. Mas ontem, estava tão longe que nem sabia quando era. Lembrou-se da foto. A festa a fantasia, o chapéu de papa, a batina. Sorriu, adorava a lembrança que a foto evocava. Riu de novo, pois achou engraçado lembrar-se de uma foto que a fazia lembrar-se de outra coisa. Devaneios, doces e totalmente inapropriados para a ocasião. Precisava se concentrar na proposta, mas seus pensamentos não estavam colaborando. - Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o ultimo instante seu direito de dizê-la. Voltaire, ele sempre citava Voltaire. Essa frase especificamente, que gostava de praticar com os outros, mas não em casa. Ai se alguém discordasse dele! Com os amigos, justiça, liberdade de expressão e todas aquelas baboseiras masculinas. Todas passíveis de compreensão e perdão hoje. Deveria tê-las perdoado ontem. Carolina estava longe novamente, com seus pensamentos na direção oposta à do computador em sua frente. Pausa para o café. A proposta vai ter que esperar um pouco mais, sua mente está indomável, com fome de passado. - ... e sabe o que ele me disse? “Quando uma pessoa se casa, a vaga de namorado fica em aberto”. Voces acreditam!? Quase caí de costas!!! Que saia justa, logo comigo! Carolina achou graça do comentário. Impressionante como tem cara de pau no mercado, mas com cantadas engraçadas. Podia ser brega, mas tinha a sua graça. Por um instante desejou que tivesse acontecido com ela esta situação. A colega se divertia com o que lhe acontecera e entretinha a pequena platéia da hora do break. “Se fosse comigo, o que eu faria?”, pensou Carolina. Terminou seu café, voltou para sua proposta. Concentração zero. Antes de recomeçar com a fatídica tarefa, deu uma olhada na caixa de entrada dos emails, abriu alguns e deixou todos sem resposta. Não sabia o que responder. - Tinha uma música, meio anos 90, que terminava com voyage, voyage. Carol, voce se lembra qual é? Claro que se lembrava e ele sabia disto. Ela parecia o “qual é a musica?”, acertando a maioria das respostas. Deu a dica para que ele pudesse fazer a busca na internet e depois fazer o download. Na verdade, baixar. Sempre achou isso feio – baixar – parecia coisa de terreiro, mas é assim que todo mundo se refere a este processo: baixar arquivo, baixar filme, baixar isso, baixar aquilo... Assim eles seguiam, ela se lembrava da música e ele fazia a trilha sonora. Desistiu da proposta. Quem esperou um dia, espera dois. Despediu-se de todos e, mesmo sem precisar, inventou uma desculpa qualquer para sair mais cedo – pelo menos, não iria enfrentar o transito infernal das 6 da tarde. E poderia alimentar a sua mente sem sentimento de culpa. Chegou em casa, chaves no pote, bolsa na cadeira da porta de entrada. Foi para a cozinha, abriu a geladeira, tirou o pote com o resto do almoço e ligou a TV. Assim, de pé, televisão ligada, comida fria e colher na mão, engoliu o macarrão com molho. Quinze minutos depois, joga tudo na pia, desliga a TV, apaga a luz. Volta, esqueceu de dar comida ao cachorro. Sobe os quinze degraus, entra no quarto, tira os sapatos. Carolina senta na beirada da cama, murmura uma oração, faz o sinal da cruz, deita, puxa as cobertas sobre o corpo fecha a mão esquerda e com o osso do dedo médio bate na cabeceira de madeira da cama de casal. Tãntãntãn. Seco, rápido e sem espaços, como suas lágrimas.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Repente animal

O desafio era escrever uma paródia, tendo dois animais como protagonistas e rimando. Divirta-se! ====================== Seu Matuto, faça o favor de largar esse seu osso, que agora vou falar, senão pulo em seu pescoço. Meu cumpadi Caramelo, diga lá o que o aborrece, pois meu osso já está de lado, nem é mais de meu interesse. Então explique, ó cachorro, o que foi que aconteceu, pois Manuela, minha bela gazela, já era amor meu. E por conta de noticia fresca, não sei o que aconteceu. Dizem que ela agora anda é com um fariseu. De fariseu eu nada sei, mas compadre não se estresse, que mazela em nossa vida é algo que sempre acontece. A dor que hoje o acomete, ontem quem sentiu fui eu. A dama que ontem o amava, hoje quer é amor meu. Essas coisas não se explicam, foi só isso que aconteceu. Seu cão filho d´uma égua, isso não pode ser. Ontem mesmo falei prá ela, da paixão que me faz crescer... E sorrindo ela me disse, nunca vou te esquecer. Como pode em apenas um dia, o sol que pra mim brilhava, desse jeito desaparecer? Opa lá, compadre meu... Cuidado com o que vai dizer! Minha mãe não ta aqui, prá poder se defender. Posso até ficar nervoso e mijar em cima docê. Se o sol de hoje se foi, amanhã volta a nascer. Seu Matuto não se enfureça, peço apenas que me entenda. Abaixe logo essa pata, prá não piorar a contenda. Se o que me diz é verdade, nada posso fazer, apenas acabar o embate e esperar anoitecer. Quem sabe quando a lua chegar, ela me surpreenda e o amor que eu hoje perdi, venha outro como oferenda. E enfim, esta velha tartaruga, tenha alguém que o compreenda.

sábado, 12 de junho de 2010

Então... amor?

Sentado, compenetrado em seu computador, ele funga. Pode ser por hábito ou uma gripe que está chegando, tanto faz. De qualquer maneira, tudo é um artificio para disfarçar a tristeza. Geralmente, numa data como esta, estaria se divertindo com ela. Mas hoje, o que fica é a saudade, a cadeira vazia, o pensamento vagando. E a pergunta: amei de verdade?

Olhar

Creio que não tenha sido ensinada a olhar e entender olhares. Não é o tipo de coisa que se aprende na escola como matemática ou português. Os pais também não nos dizem "como olhar" para isto ou para aquilo. "Filha, olhe de maneira mais terna". Ou ainda "querido, numa situação como esta, olhe mais firmemente". De repente, voce se dá conta de que olha, é olhada e recebe determinados olhares. Junto com cada um deles, seus significados.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Deslumbrar

v.t. ofuscar ou turvar a vista pela ação de muita luz. maravilhar; causar assombro em; perturbar o entendimento de; fascinar. Foi exatamente isto que me aconteceu - em momento não usual.

Afinal, é a primeira vez que vou ao Parque do Ibirapuera em plena terça-feira às 9h. Agora que escrevo, não tenho certeza que o deslumbre tenha sido causado pela luz de um sol lindo, que presenteou a todos naquele dia, deixando ainda mais bonito o parque. Ou o fato de ser uma terça feira de manhã... Não importa, vivenciei o fascínio!

Parque do Ibirapuera
foto: Sylvia Beatrix

terça-feira, 8 de junho de 2010

O que vale a pena

Acordar no escuro, caminhar no frio e se encontrar com o quente da água e lentamente derreter.
Despertar.
Ilustrar o corpo com o humor do dia, preparar o café e sair.
Trabalhar.




despertar
foto: Sylvia Beatrix





segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nem só com as minhas letras...

Letras emprestadas, também poderá ser um recurso aqui. Principalmente se elas me tocam de alguma maneira - e divulgar o que é bom, vale a pena.
Recebi este texto da amiga Marilei Zanini - a intenção dela era dar "boa noite", mas li durante o "bom dia". Iluminou minha manhã, quero compartilhar com voces. As letras emprestadas, pertencem ao poeta Manoel de Barros.

OS DOIS

"Eu sou dois seres.
O primeiro é fruto do amor de João e Alice.
O segundo é letral: fruto de uma natureza que pensa por imagens, como diria Paul Valèry.
O primeiro está aqui, de unha, roupa, chapéu e vaidades.
O segundo está aqui, em letras, sílabas, vaidades, frases. E aceitamos que você empregue o seu amor em nós."

Manoel de Barros

domingo, 6 de junho de 2010

A B C 1 2 3 - já

Comecei.
Tímida e relutante, mas aqui estou.
Escrever para entreter. Sente-se. Procure um lugar confortável - em casa, na praça, no ar...
A partir de hoje, publicarei meus escritos - vou ordenar as letras.
As letras, formarão palavras.
As palavras, ideias.
As ideias... liberdade. Prazer. Sonhar.

Fique à vontade.
Sua presença será sempre bem vinda!



be still
foto: Sylvia Beatrix

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