terça-feira, 24 de agosto de 2010

Só dói quando ri

Sempre sabemos como surgem, mesmo quando queremos esquecer. Visivel ou não, contam historias, trazem memorias. Uma delas, aconteceu de maneira muito bonitinha. Do alto do beliche, o menino resgatou as historias que ouviu, os quadrinhos que leu e o filme que assistiu. Resolveu voar. Preparou-se todo, não seria um voo como o do Super Homem. Seria um voo de Homem Aranha! Esticou os braços, apertou com o dedo indicador o próprio pulso para liberar a teia, mirou para o além e foi... para o chão! De cara, a seco, não sem antes bater o lábio superior naquele que, antes prédio, agora era apenas o outro beliche. Mas ele voou... entre a projeção do pulo e o corte na boca, ele esteve no ar. Rápido, rapidíssimo, milésimos de segundo... ele esteve no ar! A boca, até hoje mostra o feito. Dois pontos, nenhum dente perdido e a certeza de ter voado. Orgulho. Dessa cicatriz aparente, ainda hoje, quando ela já não tem mais o mesmo tamanho de antes, sente prazer em contar o que aconteceu. Ele cresceu, ela encolheu. E as invisíveis, o que fazer com elas? Do mesmo jeito que a cicatriz Homem Aranha, as invisíveis tem sua própria historia e nome. Difícil orgulhar-se delas ou contar com o tempo para que diminuam. Dormem, fingem-se mortas mas tem vida própria. Mascaradas nas tarefas do dia a dia, basta um sopro, uma letra, uma música, uma foto, um link ou qualquer outro despertador de memória para que, como uma fenix, ressurjam das cinzas. Neste momento, o menino homem, passa a mão sobre os lábios. Sente a rugosidade leve da marca de infancia e suspira. Quem dera, todas fossem como esta...

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