domingo, 5 de setembro de 2010

Nem pior, nem melhor.

Eram cinco. Estavam praticamente todas sobre a mesma pedra à beira da praia. Os comentários dos adultos ao redor, giravam em torno da natureza e como esta reivindicava seu espaço de direito. “Na minha época, a praia ia até aquela escada... está vendo, lá longe? Foi praticamente engolida pela maré.” “No verão passado, eu já tinha que tomar minha caipirinha no calçadão, não havia espaço na areia, um horror!” “Dotô, num tem mais espaço... deve di sê Deus brabo cum as coisa que nóis faiz. Vô ponhá sua cadeira aqui prá mó de servir u sinhô e a Dona Patricia no capricho!” Alheias a esses comentários e tantos outros, as cinco crianças brincavam com a sensação do medo. As ondas vinham... as crianças pulavam nas pedras, seu porto seguro e gritavam... gargalhavam... som estridente, reconhecidamente infantil e chato. Calem-se, vociferei baixinho. Que alegria irritante. No ir e vir das ondas, meus pensamentos acompanhavam este movimento. Iam mal humorados, voltavam emputecidos. Como pode? De onde vem tanta leveza? Deve ser a idade... Idade esta que não se preocupa com qual é o dia da semana. Muito menos com o horário, temperatura, período de eleição, futuro... O que importa é aqui, este momento, sobre as pedras e as ondas que se aproximam. “Vamos fugir prá elas não nos pegarem!” Grito estúpido, de uma infância que me incomoda. Será que elas não percebem que independente de seus gritos histéricos, as ondas não irão parar com este vai e vem? Elas não percebem que com o passar dos dias, irão envelhecer, desistirão de subir nas pedras para sentir segurança, mudarão seu tom de voz e gritos – nem pensar! Engolirão, cada um de seus sons e, acima de tudo, terão a consciência de que os movimentos das ondas manterá o seu ritmo, mudando apenas de acordo com a lua? Oh, doce ignorância... Meu ímpeto era contar a cada uma delas o que iria acontecer. Mostrar os sinais em meu rosto de como o tempo passa, que isto é incontrolável e que as ondas não importam mais. Que podem gritar o quanto quiserem, ninguém vai ouvir. Muito menos se importar. Dia da semana, mês e ano são apenas medidas entre o nascimento e a morte. Passam, um após o outro, numa sequencia tediosa, longa e desinteressante. Em algum lugar do passado, não me lembro onde, eu também subi em uma pedra. Acho que aquilo se chamava vida. Hoje, é apenas mais um dia da semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...