domingo, 15 de janeiro de 2012

Maria Dilma, quase uma lady

Depois de quase dois anos morando na Alemanha, volto para Vila Madalena, São Paulo, Brasil.
Confesso que não queria. Ficava assustada pensando na possibilidade da minha loirinha de apenas três anos ser seqüestrada à tarde em um shopping center lotado. Deixava uma cidade com aproximadamente cem mil habitantes, retornando à cidade dos milhões. Milhões!

Não é fácil se acostumar com idioma diferente, cheiros e sabores estranhos, neve na entrada de casa que você mesma limpa, sistemas super organizados ou não conseguir comprar o pãozinho para o café. É muito fácil se acostumar com a sensação de segurança, espaços bem cuidados, andar de bicicleta por todos os lados, abdicar do carro pois a cidade é plana e pequena, ter o marido de volta em horário regular e ainda aproveitar o tempo livre durante a semana com a família. É isso mesmo, DURANTE a semana.

Tudo isso estava ficando para trás e o que vinha pela frente, precisava de ajuda. Eu precisava dessa ajuda, pois voltar a trabalhar estava nos meus planos. Vamos contratar a empregada doméstica antes que o container desembarque a nossa mudança. Estávamos em mil novecentos e noventa e quatro.

Como ela apareceu, eu não me lembro. No Brasil, todo mundo tem alguém que pode indicar outro alguém para trabalhar. Um dia, tomando café no posto de gasolina perto de casa, a conversa entre o senhor de cabelos brancos e a atendente do Select já estava avançada nas tratativas de contratação. A loja estava prestes a perder uma funcionária. Minha mãe não é agencia de empregos e muitas vezes a consultam quando se trata de obter ajuda doméstica. Se voce frequenta sempre o mesmo supermercado, conhece desde o caixa até a pessoa que te ajuda com as compras, garanto que esta é uma boa fonte de contatos. A santa Luzia que trabalha para mim hoje em dia, veio direto de uma indicação no Pão de Açúcar. Esta mulher também é digna de uma crônica. Terá seu dia aqui no blogue.

Cento e quarenta e sete centímetros, vinte e sete anos e aproximadamente cinquenta quilos, com os quais vivia em briga constante. Cabelos crespos, alagoana, libriana, fumante e, de acordo com ela mesma, quase uma lady. Maria Dilma, muito prazer.

Sempre muito direta e clara, de criança e cachorro não cuidava, não dormia fora de casa e não gostava de se envolver na vida "dos patrões". Cozinhava "o normal" e queria os finais de semana livres. Perfeito, estava na medida para as minhas necessidades. Este foi o nosso começo, em um pequeno apartamento na rua Purpurina, com dois quartos, um casal, uma criança e nenhum cachorro.

Adorava um papo. Boa de prosa mesmo, atracada com a vassoura ou com uma pilha de roupa para lavar e passar, quem desse trela a ela tinha dificuldade de se despedir. Dilma passava de um assunto a outro facilmente, sem dar espaço para o interlocutor concordar, discordar ou ainda ter opinião. Ôxi... era a deixa para algum comentário. E que fosse feito rápido.

A "quase lady" tinha um sonho. Queria voltar a estudar e fazer faculdade de assistencia social. Saiu muito cedo de Alagoas para tentar, como tantos, a sorte na cidade grande. Também queria deixar para trás a triste vida, as brigas com o pai, a mãe que não se manifestava e o espaço que era pouco.

Treze anos se passaram desde o primeiro encontro. Dilma cuidou de criança, depois cuidou de duas crianças e um cachorro, dormiu fora de sua casa, participou de um divórcio e de um novo casamento, mudou de casa comigo três vezes até que o seu sonho pulsou fortemente, não permitindo mais que fosse adiado. Tchau Dilma, até a próxima.

Mantivemos contato por telefone, Natal, aniversários ou apenas para fofocar. Continua sendo difícil desligar o telefone quando nos falamos, ela ainda fala muito! Foi por telefone que fiquei sabendo que ela concluiu seus estudos graças ao supletivo, prestou duas vezes o vestibular para assistência social, entrou na faculdade e passou direto em seu primeiro ano como universitária.

Depois de quatro anos sem nos encontrarmos, hoje foi dia de uma cervejinha com a Baixinha. Ela voltou à nossa casa - misto de trabalho e lazer - com a família  reunida e colocamos todos os assuntos em dia e a saudade cedeu um pouco.

Se o valor de uma pessoa pudesse ser medido em números, a soma deste texto ainda ficaria devendo à Baixinha, que é muito mais que uma lady.

2 comentários:

  1. verdade eu me orgulho muito de minha querida irma ele mi deu bastante força e uma das pessoas que sempre coloco mai minhas orações pois ela e maravilhosa

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    Respostas
    1. Edilene, tenho o mesmo sentimento por esta Baixinha que vale ouro! Ela é uma mulher especial, que Deus a abençoe sempre!
      Fico feliz que você tenha gostado desta pequena homenagem.

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