sexta-feira, 9 de março de 2012

Setenta e nove anos


Ao final da ampla alameda, a construção de telhas avermelhadas abre seus portões de ferro informando que haverá libertação. Com trabalho.
Os arames farpados que cercam a imensa área dizem o contrário. Ontem, confinavam quem entrava. Hoje, todos entram e saem. E a levam consigo. Receosa, ela segue
Sua amplidão retira o ar dos pulmões, sufoca e dá tontura. Sua voz é de cascalho. Pesada, ritmada, ecoando por todos os lados. Estas vozes sem corpo ensurdecem seus ouvidos. Alguém marcha? Quem?
Seus olhos se manifestam em lágrima."Plus jamais".

O perfeito alinhamento das calçadas forma esquinas sem encontros. Os retângulos marcados no chão mostram o que não existe mais. Um, dois, três... mais de trinta. Cada teto aqui erguido, abrigou centenas de cobaias. Todas humanas.
Tudo é longo, grande e denso. Ela se encolhe. Olha para o céu em busca de uma saída, avista uma chaminé. Calafrio.
A estátua de ferro em agonia retorcida, espeta seu peito como a coroa de Cristo. Ela sangra. Mãos, crânios, ossos empilhados e expostos nas fotos por todos os lados geram a dúvida. Isso é gente?"Never again".

Os fornos concentrados na sala de paredes descascadas abrem suas bocas para engolir destinos. "Do pó vieste, ao pó retornarás". Sente frio. Ouve murmúrios pelas paredes, nada vê.
Quase tudo é cinza. O verde das árvores, o vermelho dos telhados, o branco das paredes. Exceto o céu. Soberano, abre espaço para que os altos pinheiros com ele se encontrem numa fusão verdeazul. Tentativa de esperança? Destas cores, nada mais reflete vida."Nie wieder".

Apressa o passo querendo fugir. Tudo o que ouve é o som do cascalho. Pesado, ritmado... Ela nunca mais será livre.
Na saída, lê a inscrição: "Arbeit macht Frei".
Será?

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